Resenha #3 – Quando Duas Mulheres Pecam (Persona, 1966)

Provavelmente um dos mais enigmáticos e introspectivos longas do diretor sueco Ingmar Bergman, Persona é daqueles filmes que deve ser visto e revisto para ainda assim não ser totalmente compreendido. Várias interpretações podem ser feitas a partir do material – como é costume nos filmes do diretor – bastante intrigante e reforçado por excelentes roteiro e fotografia, além de atuações magníficas do elenco principal, que conta com Liv Ullman, Bibi Andersson, Gunnar Björnstrand e Margaretha Krook. Nada surpreendente quando se trata de Bergman.

 

Logo no início do filme somos bombardeados com algumas imagens que parecem aleatórias. Um animal sendo sacrificado, uma crucificação, um corpo em chamas e mais algumas outras imagens que muitas vezes acabam voltando ao longo do filme. Seria a dica para uma história sobre o sacrifício do ser humano? Do artista? Pode ser, mas pode também não ser. Ao contar a história de uma atriz de teatro (Liv Ullmann) que se refugia numa casa de campo acompanhada de uma enfermeira (Bibi Andersson), após ficar completamente avessa ao diálogo, Bergman parece estar preocupado em mergulhar na alma humana e explorar seus recantos mais obscuros. Há uma espécie de simbiose entre as duas mulheres, aos poucos, a enfermeira começa a se abrir e a contar para a paciente – que permanece completamente muda – seus mais sórdidos segredos, culminando com a descrição bastante real de uma experiência sexual entre ela, uma amiga e dois homens desconhecidos. Aos poucos as personagens de Andersson e Ullmann parecem se fundir em uma só figura, com Bergman utilizando recursos cinematográficos para demonstrar imageticamente a sobreposição do rosto das duas atrizes.

 

Em outro momento, o diretor nos lembra de que tudo se trata de um filme. Propositalmente, simula a película se desgarrando do projetor e entrando em combustão. Uma forma de nos alertar que tudo não passa de imaginação? Quem sabe? Me lembrou um pouco a cena do teatro de Cidade dos Sonhos, de David Lynch, onde este claramente parece nos jogar na cara: “tudo é uma ilusão”. A arte – e principalmente o cinema – é uma poderosa ilusão.

 

A direção de fotografia é assinada pelo competente Sven Nykvist, que aqui alterna muitas vezes planos superexpostos e subexpostos. Em outras cenas, utiliza ainda iluminação com altos contrastes entre preto e branco. Impossível deixar de contemplar as imagens quando Nykvist assina qualquer dos trabalhos de Bergman, que aliás, conta sempre com um time de primeira para realizar suas produções. Não à toa, a competência se perpetua por sua excelente carreira, estando este filme aqui entre os seus mais aclamados trabalhos.

 

por Fred Almeida

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