Um excelente filme. Foi o oitavo que vi do Kurosawa e depois de terminado, logo o considerei um dos melhores. Nem vamos entrar no mérito sobre podermos ou não classificar um filme japonês como noir. Esses debates acabam não levando a lugar nenhum e tiram o foco do principal, que é falarmos do filme em si.
A história é extremamente simples: policial tem sua Colt roubada, carregada com todas as 7 balas, e empreende uma cansativa e angustiante busca pela arma, por toda Tóquio. O que, em princípio, seria apenas uma busca pessoal, passa a ser um caso de polícia quando ele descobre que alguns crimes (inclusive um assassinato) estão sendo cometidos com a sua própria arma. Assolado por um sentimento de culpa (no raciocínio dele, se não tivesse sido descuidado ao deixar que roubassem sua arma, os crimes não teriam acontecido), a busca passa a ser uma corrida contra o relógio, já que, pelos cálculos, ainda há balas na arma e outras mortes podem acontecer.
Entretanto, apesar da simplicidade da história, a direção magistral de Kurosawa (que me parece ser um diretor que não necessariamente cresceu com o tempo, isto é, já era fora-de-série em seus primeiros trabalhos, como p.ex, “Rashomon”) fez de “Cão Danado” um grande filme.
A cena da perseguição final, começando na estação, é memorável. Já desesperado e com o sentimento de culpa no seu ponto máximo, após o criminoso ter baleado seu colega, Murakami (Mifune) vai a seu encontro numa estação, mas não sabe quem é o homem. Sabe apenas que é canhoto e deve estar usando um terno de linho branco. Além disso, imagina que esteja com sapatos e calça sujos, pois vinha de uma fuga sob chuva.
Sem dúvida, a dupla de protagonistas (Toshiro Mifune e Takashi Shimura) está muito bem. Aliás, estes dois atores dão sempre um toque de qualidade adicional aos filmes do Kurosawa. Este é o segundo filme de Kurosawa que pode ser de alguma forma relacionado ao Cinema Noir. O primeiro, em 1948, foi “O Anjo Embriagado” (“Yoidore Tenshi”), com os mesmos protagonistas.
por Alexandre Cataldo
Necessário dizer que essa resenha foi escrita há mais de 10 anos. De lá pra cá, vi todos os que faltavam, li sua autobiografia e acho que me tornei um pouco mais “íntimo” de sua obra. Ainda bem!
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Assisti recentemente o Cão Danado e como não assisti muitos filmes do Kurosawa (Os Setes Samurais, Rashomon, Yojimbo, Viver e Madadayo) confesso que ainda sou surpreendido com o vários tipos de estéticas, temas e gêneros que ele trabalhou com uma qualidade impressionante.
Cão Danado me agradou muito também. E realmente me lembrou muito vários filmes policiais americanos, mas com toda uma carga cultural japonesa. A preocupação do policial em encontrar a arma e de ele chegar ao ponto de pedir demissão por não aguentar a culpa por ter sua arrama machucado outras pessoas é muito tocante.
Abraços.
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Bacana! E aposto que ainda vai se surpreender muito com o Kurosawa, diretor que merece ter sua obra vista e REVISTA. Abs
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