Na definição do próprio diretor Vittorio de Sica, este foi seu primeiro filme realmente autoral, no qual afastou-se do cinema puramente comercial e começou a mostrar “a realidade”, motivação principal que conduziu ele e outros diretores e escritores a criar o que se convencionaria chamar de neo-realismo.
Não podemos considerar “A Culpa dos Pais” (“I Bambini ci Guardano”) um filme plenamente neorealista, uma vez que a realidade que se pretende mostrar é muito menos social e mais familiar do que o de outros filmes posteriores. Entretanto, a forma sensível e simples de se abordar o tema, capaz de emocionar o espectador, são típicas do movimento que se iniciava.
Como em “Vítimas da Tormenta” (“Sciusciá”) e, em menor escala, em “Ladrões de Bicicleta”, os acontecimentos nos são mostrados pelo olhar da criança. A diferença aqui é que seus sofrimentos não são diretamente relacionados à pobreza, ao desemprego, à violência mas, de um modo mais intimista, ao distanciamento entre pai e mãe, que levam diretamente à dilaceração da família e à perda da inocência da criança. O menino Pricó é um retrato perfeito do desamparo, mal conseguindo entender o que está acontecendo, o que torna seu sofrimento ainda mais comovente.
SPOILERS
Os mais sensíveis certamente precisarão de lenços perto do final. O pai de Pricó, destroçado emocionalmente pela esposa que o havia traído e abandonado o lar, sabia não ter condições de cuidar do menino e, humilhado, resolve se matar. Antes, leva o menino a um internato. Pricó chora e corre atrás do pai que se vai. Ele sabe que não mais o verá.
por Alexandre Cataldo
Nossa, nem parece que já faz 9 anos que escrevi isso. Na época, também coloquei a cena chô-rô-rô do final no YouTube. E ainda está lá: https://youtu.be/dasu0dGuKiE
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