Georges Méliès
Logo após a criação do cinema pelos irmãos Lumière, uma injeção de ânimo foi aplicada à nova mídia por meio do inovador trabalho do francês Georges Méliès. Coube a ele criar o espetáculo cinematográfico, trazendo o palco teatral para mais próximo do novo invento dos irmãos Lumière. Aos 35 anos de idade, Méliès era um rico e próspero diretor de teatro de ilusionismo e ao presenciar a apresentação do cinematógrafo no Grand Cafè de Paris, ficou maravilhado. Propôs a Antoine Lumière comprar a máquina criada pelos seus filhos, mas este recusou a oferta, alegando que aquilo tudo era passageiro e que não havia futuro no experimento. Georges Méliès não se convenceu e perseguiu sua ideia original, adquirindo um projetor ótico semelhante, de outro pioneiro que já conhecemos por esta série de textos, o inglês e também realizador de filmetes da chamada “Escola de Brighton”, William Paul.
L’Escamotage d’une Dame
Os primeiros filmes de Méliès se limitavam a cópias dos já produzidos pelos Lumière. Seu grande passo em nova direção foi a descoberta acidental do efeito da trucagem. Com esta técnica Méliès torna-se um pioneiro e juntamente com a construção de um estúdio em sua propriedade em Montreuil, começa a produção efusiva de novos filmes. O efeito da trucagem foi descoberto depois que filmou um carro numa rua. A câmera emperrou e quando voltou a funcionar, já havia um carro funerário no lugar do automóvel que antes estava lá. Ao reproduzir as imagens daquele dia, veio a descoberta: o carro comum havia se “transformado” no carro funerário, como num passe de mágica. A partir daí, esta técnica se tornaria recorrente em sua obra e apareceria pela primeira vez no curta L’Escamotage d’une Dame (O Desaparecimento de uma Dama). Entre outros artifícios utilizados por ele em suas produções estavam a exposição múltipla, o truque conhecido por “magia negra” e o uso de maquetes. Todos estes efeitos tinham a intenção de surpreender e sempre eram utilizados como truques.
No entanto, a genialidade presente na obra do francês se consolidou pelo fato dele utilizar em suas filmagens a maior parte dos meios fundamentados pelo teatro: argumentos, atores, figurinos, caracterizações, cenários, divisão em cenas (ou atos), etc. Tais características estão presentes, de forma diversa, no cinema como hoje o conhecemos. Sua maior limitação foi manter-se exclusivamente no ponto de vista do espectador. Todos os seus filmes têm o mesmo ponto de vista: o da platéia. Seu cinema se restringiu ao que se chamou de “teatro filmado” e de 1900 até o fim de sua carreira sua evolução foi imperceptível.
O Caso Dreyfus
Outra importante contribuição deste francês para o cinema foi a criação dos então chamados ‘one-reelers’ – filmes de um rolo. A primeira destas investidas foi a encenação da décima parte de uma versão do caso Dreyfus, em 1899. L’Affaire Dreyfus (que muito depois, já na era do cinema falado, teria o julgamento imortalizado por Paul Muni em A vida de Emile Zola) tinha cerca de quinze minutos, aproximadamente o tamanho de um rolo de filme. Outro filme de igual importância foi Cinderela, de 1902, que se constituía de vinte cenas.
O apogeu da filmografia de Méliès foi o filme que o celebrizou mundialmente e que representou grande êxito comercial e artístico: Voyage dans la Lune, de 1902. Viagem à Lua era baseado em romances de Julio Verne e H.G. Wells, mas seu conteúdo carrega um toque particular de Méliès, um humor fácil e arrebatador. A história relata um grupo de astrônomos que decide ir à Lua, utilizando-se de uma cápsula no formato de uma bala. A chegada da espaçonave na lua é mostrada pela única verdadeira seqüência do filme: antes de receber a “bala” no olho, a lua se aproxima da câmera numa espécie de zoom invertido, depois há um corte e vemos a cápsula chegando ao chão do satélite. O sucesso do filme foi estrondoso e foi ainda maior nos Estados Unidos, onde várias réplicas surgiram. Este fato causou estranheza a Méliès, já que ele havia mandado para lá apenas algumas cópias. Foi forçado então a abrir uma sucursal em Nova York, comandada por seu irmão Gaston, para defender seus direitos.
Viagem à Lua
Por volta de 1906, o cinema de Méliès já estaria ultrapassado. A partir desta época, ambiciona competir com Pathé e passa a produzir filmes cômicos e medíocres, caindo na vulgaridade e agravando a situação financeira de seu empreendimento. Mais tarde, é obrigado a recorrer a Pathé para sobreviver no meio. A sucursal americana também ia mal das pernas e acabou por levar a derrocada do estúdio de Motreuil, que termina transformado em teatro. Num ato derradeiro, acabou por vender a película de seus filmes, que tristemente viram pentes e escovas de celulóide. Em 1938, o gênio morre sem conhecer o prestígio que hoje possui no meio cinematográfico, a ponto de cineastas como Martin Scorsese, dedicar um filme ao brilhantismo de Méliès: A Invenção de Hugo Cabret.
por Fred Almeida
Você conhece está série: A História do Cinema, uma Odisséia.
Os primeiros episódios são sobre esse tema.
Seu site continua interessante.
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Sim, já vi esta série toda, muito boa. Boas dica de filme ali.
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