Sejamos honestos: “Curva do Destino”, dirigido por Edgar G. Ulmer, é um filme cheio de defeitos. Os atores são limitadíssimos. A baixa qualidade técnica, decorrência do baixíssimo orçamento, fica evidente em erros grosseiros como, por exemplo, cenas em que o motorista está do lado direito do carro, inaceitável se a ação se passa nos EUA. Neste caso, é óbvio que o negativo foi invertido no momento da montagem.
O mais intrigante é que, apesar de todos estes problemas, “Curva do Destino” não foi esquecido. Ao contrário, virou até um filme considerado cult e extremamente representativo do que foi o filme noir. A causa disso está, sem dúvidas, no enredo. Apesar de alguns furos e de várias inverossimilhanças, o roteiro é um dos que melhor desenvolve um dos temas noir mais freqüentes: o pesadelo fatalista, o protagonista indefeso frente às garras do destino.

Al Roberts (Tom Neal), um sujeito sem dinheiro, precisa ir de Nova Iorque a Los Angeles para reencontrar a namorada. Como está sem dinheiro, tenta viajar na base da carona. Mas o destino é cruel com ele. O que torna a história de Al Roberts mais contundente é o fato de ele ser um dos mais inocentes protagonistas noir. A causa de seus problemas não é a ganância, ou o desejo por uma mulher perigosa. Ele só queria reencontrar sua namorada. Apesar disso, ele tem um azar fenomenal e inexplicável.
O ator principal, Tom Neal, é extremamente limitado. Na vida pessoal ele esteve tão encrencado quanto nas telas. Foi banido de Hollywood em 1951, depois que encheu de pancada o ator Franchot Tone (por causa da atriz Barbara Payton). Franchot teve até concussão cerebral por causa da surra. Em 65 foi julgado pelo assassinato da mulher (Gale Bennett) e condenado a 10 anos (escapou por pouco da cadeira elétrica). Meses depois de sair em condicional (após cumprir 6 anos) ele foi encontrado morto.
O diretor é Edgar G. Ulmer, austríaco que foi assistente de Murnau durante 6 anos e estreou com um pseudo-documentário co-dirigido por Robert Siodmak (People on Sunday). Este longa ainda teve uma refilmagem em 1992, com o filho de Tom Neal no papel que havia sido de seu pai.
por Alexandre Cataldo