Resenha #36 – Brutalidade (Brute Force, 1947)


Excelente filme de prisão, dirigido por Jules Dassin. Apesar de estar repleto de clichês do gênero (cenas em refeitórios, planos de fuga, tentativas frustradas, flashbacks justificando os crimes cometidos), “Brutalidade” talvez seja marcante por dar destaque não só aos personagens dos presidiários, mas também àqueles dos funcionários do presídio (diretor, médico e carcereiro).

 

O título do filme não engana:  trata-se de um filme repleto de cenas violentas.  A brutalidade em questão é a que domina todos dentro do presídio, a começar pelo chefe dos carcereiros, Capitão Munsey (Hume Cronyn, em marcante interpretação, possivelmente a melhor de sua carreira).  Ele é um sádico que usa de requintes de crueldade para ameaçar e torturar os detentos, além de induzi-los a delatar os companheiros.

 

Ficam evidentes os traços nazistas na sua personalidade:  além da sede alucinada pelo poder (no caso, o cargo de diretor do presídio), ele tortura um preso ao som de Tanhauser, de Wagner, compositor predileto de Hitler.  E em seu escritório há um quadro dele mesmo, em pose de líder.  Contraditoriamente, porém, sua brutalidade parece conviver com alguns trejeitos levemente efeminados.

Num filme com um ótimo elenco de coadjuvantes (Jeff Corey, Sam Levene, Charles Bickford, Howard Duff), não é só Hume Cronyn que merece destaque.  Art Smith também está muito bem no papel do médico alcoólatra, o único com alguma sensatez dentro do presídio. Há ainda a engraçada participação de um ator chamado Sir Lancelot, no papel do prisioneiro Calypso, que só sabe se expressar cantando (calipso, claro).

 

A direção de Dassin é ágil e mantém um bom ritmo durante todo o filme.  Com este filme, ele iniciava uma relevante fase noir em sua carreira, que incluiria “Cidade Nua”, “Mercado de Ladrões”, “Sombras do Mal” e, fechando com chave de ouro, “Rififi” (seu primeiro filme feito na Europa, após se mudar para lá fugindo da “caça às bruxas” dos anticomunistas).

por Alexandre Cataldo

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