Resenha #69 – Hammett: Mistério em Chinatown (Hammett, 1982)

Dashiell Hammett (1894 – 1961) é considerado um dos mais importantes autores americanos de novelas policiais e detetivescas.  São suas obras que se tornariam ainda mais famosas ao serem transpostas para as telas, como “Red Harvest” (publicada em 1929 e que teria inspirado “Yojimbo” de Kurosawa e, por tabela, “Por um Punhado de Dólares”, de Sergio Leone), “The Glass Key” (que rendeu dois filmes, em 1935 e em 1942) e, a mais famosa de todas, “The Maltese Falcon”, publicada em 1930 e cuja terceira versão cinematográfica (1941) marcaria o início oficial do período clássico do cinema noir.

 

O que talvez poucos saibam é que Hammett construiu boa parte de suas histórias de detetives a partir de suas experiências pessoais.  Entre 1915 e 1921, ele trabalhou para uma renomada agência de detetives, a Pinkerton.

 

O filme “Hammett – Mistério em Chinatown”, primeiro filme americano do diretor alemão Wim Wenders, não é de forma alguma uma biografia do escritor.  É uma boa história de ficção, que se torna muito interessante por misturar inúmeros elementos verdadeiros da vida do escritor.

 

No filme, o escritor (interpretado muitíssimo bem por Frederic Forrest) é procurado por um amigo “dos velhos tempos” (Peter Boyle) para investigar o misterioso desaparecimento de uma garota chinesa.  A partir daí, meio que numa atmosfera de pesadelo, vemos um Hammett metade escritor metade detetive, vivendo uma de suas próprias histórias.

É um filme com um belíssimo visual de época e com uma atmosfera totalmente noir. Por isso, talvez até involuntariamente, acaba sendo mais que apenas uma homenagem a Dashiell Hammett.  Torna-se uma homenagem tanto ao cinema noir quanto a uma de suas fontes primárias, a literatura noir. O tom de homenagem fica ainda mais marcante pela presença de Elisha Cook Jr. (em sua última aparição nas telas, aos 76 anos), no papel do motorista Eli.  Seu papel aqui é pequeno, mas o seu personagem típico nos noir clássicos (o do capanga metido a durão mas que é um baita perdedor) está no filme também, encarnado por David Patrick Kelly, uma reedição do Wilmer de “The Maltese Falcon”.

Outras pontas são dignas de nota:  Samuel Fuller, com seu indefectível charuto no canto da boca, aparece em uma cena;  Sylvia Sidney (a mulher que François Truffaut dizia ter os olhos do Peter Lorre) também aparece.

 

O único defeito do filme é uma certa falta de vigor em si mesmo, de tão focado simplesmente em ser um conjunto de referências e homenagens, que por vezes ficam parecendo mais um conjunto de clichês. Apesar disso, é um filme que considero obrigatório para aqueles que gostam de filmes noir.

 

por Alexandre Cataldo

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