Um ano antes deste filme, o diretor Nicholas Ray havia feito o excelente “No Silêncio da Noite” (“In a Lonely Place”), com Humphrey Bogart. Embora não tão bom quanto aquele, “Cinzas que Queimam” tem um tema ligeiramente similar: trata de um homem “contaminado” pela violência do mundo que o cerca, o que, juntamente com uma boa dose de brutalidade natural, o condena a ser uma verdadeira “bomba-relógio” ambulante. E trata também de uma mulher que consegue perceber algo de bom por trás do comportamento violento e quer “resgatar” o homem.
Os protagonistas são Robert Ryan e Ida Lupino. Ryan, um assíduo “freqüentador” de filmes noir (“Rancor”, “Punhos de Campeão”, “A Estrada dos Homens sem Lei”, “Só a Mulher Peca”, “Casa de Bambu”), tem aqui a sua atuação padrão, encarnando muito bem o policial Jim Wilson, brutalizado pela violência com quem lida diariamente. Lupino, sempre ótima atriz (talvez menos reconhecida do que deveria), faz a mulher cega que consegue “enxergar” o coração do policial.
O “terreno perigoso” do título pode ser interpretado da mesma forma que o “lugar solitário” do filme anterior de Ray. Não se referem a lugares propriamente ditos, mas às condições emocionais dos protagonistas.
A trilha sonora chama a atenção desde a abertura. Basta sabermos quem é o compositor para entendermos: trata-se de Bernard Herrmann, que viria a ser parceiro de Hitchcock em vários filmes entre 1955 e 1964. Apesar de ter criado trilhas sensacionais, como as de “Psicose”, “Um Corpo Que Cai” e “O Dia em Que a Terra Parou”, o próprio Herrmann considerava a música de “Cinzas que Queimam” o seu melhor trabalho.
por Alexandre Cataldo