
Poster do filme
Quando o assunto é o cinema da Suécia, o primeiro nome que vem à cabeça da maioria dos cinéfilos é, merecida e naturalmente, o do diretor Ingmar Bergman (1918 – 2007), cujo iminente centenário movimenta todo o mundo, com homenagens e mostras de seus filmes.
Quando se busca um pouco além da hegemonia bergmaniana, porém, pode-se descobrir muita coisa interessante, de vários outros diretores. Dos pioneiros Victor Sjöström e Mauritz Stiller, aos representantes do Novo Cinema Sueco, Bo Widerberg e Jan Troell, passando por referências como Arne Mattson, Gustaf Molander e Alf Sjöberg. Em meio a todos esses nomes, poucos falam de Hasse Ekman, diretor que nos anos 40 chegou a protagonizar uma saudável rivalidade com o amigo Bergman, seu contemporâneo. A imprensa alimentava a discussão: qual dos dois jovens se tornaria um diretor melhor?

Hasse Ekman
Ekman (1915 – 2004) tinha mais “nome”. Era filho do grande Gösta Ekman (1890 – 1938), talvez o principal ator sueco da primeira metade do século XX (talvez mais lembrado por filmes como Fausto, de F. W. Murnau ou do maestro em Intermezzo, a versão sueca de 1936, que projetou Ingrid Bergman). Também era ator, e aparece inclusive em alguns filmes do próprio Bergman (em “Prisão” e “Sede de Paixões”, ao lado de sua esposa na vida real, Eva Henning; e em “Noites de Circo”, como o ator Frans, que humilha o marido da personagem de Harriet Andersson).
Se nessa disputa caseira, entre Bergman e Ekman, ao menos junto ao público internacional, não fica dúvida sobre o vencedor, isso não significa que a obra de Ekman não mereça atenção. Tive oportunidade de conhecer aquele que é tido como seu principal filme: Flicka och hyacinter, de 1950. Não há título brasileiro oficial, pois nunca foi lançado por aqui. A tradução literal seria “a garota e o jacinto” (sendo “jacinto” o nome de uma flor). Mas até para evitar confusão como o nome próprio e algum cacófato, prefiro inventar um outro título brasileiro: A Garota com a Flor.

Eva Henning, no papel principal
Achei um filme muito interessante, principalmente pela clara relação com “Cidadão Kane”, por sua estrutura narrativa. A personagem principal (a pianista Dagmar Blink, interpretada por Eva Henning) comete suicídio logo no início do filme. E o que vemos em seguida é a busca de um casal vizinho (Ulf Palme e Birgit Tengrot) por conhecer as causas daquele ato. Procuram pessoas que haviam convivido com Dagmar e conversam com elas (o que muito convenientemente dá sempre origem a flashbacks). O roteiro cria belas amarrações entre as diversas versões e reserva um final um tanto surpreendente, trazendo inclusive um tema tabu (que dificilmente estaria num filme americano da mesma época, por exemplo).

Birgit Tengroth e Eva Henning
Além do trio principal, já citado, temos ainda um sempre interessante Anders Ek, ator conhecido pelos que conhecem bem os filmes de Bergman, por ser o palhaço Frost em “Noites de Circo” e o monge da assustadora cena da procissão de autoflagelantes, em “O Sétimo Selo”. Sua tradicional “pathos” sempre impressiona.

Ulf Palme e Anders Ek observam o quadro da garota com a flor
Fica a dica a todos que buscam conhecer um pouco mais do cinema sueco. Eu, particularmente, pretendo conhecer outros filmes de Hasse Ekman.